sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vacina brasileira contra a Aids será testada em macacos

Imunizante desenvolvido e patenteado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP mostrou alta potência em camundongos

HIV: com duração prevista de 24 meses, experimentos têm o objetivo de encontrar
o método de imunização mais eficaz para ser usado em humanos

  São Paulo – Uma vacina brasileira contra o vírus HIV, causador da Aids, começará a ser testada em macacos no segundo semestre deste ano. Com duração prevista de 24 meses, os experimentos têm o objetivo de encontrar o método de imunização mais eficaz para ser usado em humanos. Concluída essa fase, e se houver financiamento suficiente, poderão ter início os primeiros ensaios clínicos.   Denominado HIVBr18, o imunizante foi desenvolvido e patenteado pelos pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Edecio Cunha Neto, Jorge Kalil e Simone Fonseca. Atualmente, o projeto é conduzido no âmbito do Instituto de Investigação em Imunologia, um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), um programa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apoiado pela FAPESP no Estado de São Paulo.
   O trabalho teve início em 2001, com apoio de um Auxílio Regular sob a coordenação de Cunha Neto. Em parceria com Kalil, o pesquisador analisou o sistema imunológico de um grupo especial de portadores do vírus que mantinham o HIV sobre controle por mais tempo e demoravam para adoecer. No sangue dessas pessoas, a quantidade de linfócitos T do tipo CD4 – o principal alvo do HIV – permanecia mais elevada que o normal.
   “Já se sabia que as células TCD4 são responsáveis por acionar os linfócitos T do tipo CD8, produtores de toxinas que matam as células infectadas. As TCD4 acionam também os linfócitos B, produtores de anticorpos. Mas estudos posteriores mostraram que um tipo específico de linfócito TCD4 poderia também ter ação citotóxica sobre as células infectadas. Os portadores de HIV que tinham as TCD4 citotóxicas conseguiam manter a quantidade de vírus sob controle na fase crônica da doença”, contou Cunha Neto.
Os pesquisadores então isolaram pequenos pedaços de proteínas das áreas mais preservadas do vírus HIV – aquelas que se mantêm estáveis em quase todas as cepas. Com auxílio de um programa de computador, selecionaram os peptídeos que tinham mais chance de serem reconhecidos pelos linfócitos TCD4 da maioria dos pacientes. Os 18 peptídeos escolhidos foram recriados em laboratório e codificados dentro de um plasmídeo – uma molécula circular de DNA.
Testes in vitro feitos com amostras de sangue de 32 portadores de HIV com condições genéticas e imunológicas bastante variadas mostraram que, em mais de 90% dos casos, pelo menos um dos peptídeos foi reconhecido pelas células TCD4. Em 40% dos casos, mais de cinco peptídeos foram identificados. Os resultados foram divulgados em 2006 na revista Aids.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

EUA tentam reparar uso de dados genéticos de família de Henrietta Lacks

Células retiradas de paciente morta em 1951, sem o consentimento da família, revolucionaram a medicina

   Um dos casos mais interessantes sobre privacidade na ciência e uso de dados genéticos de uma família começa a ser reparado. Nesta semana, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (na sigla em inglês, NIH) entrou finalmente em acordo com a família de Henrietta Lacks sobre o acesso ao sequenciamento genético das células apelidadas de HeLa.
   As células tumorais HeLa são as mais estudadas em todo o mundo. Pesquisadores do Hospital Johns Hopkins, em Baltimore (EUA) retiraram, em 1951, o tecido tumoral de Henrietta Lacks, mulher de 31 anos negra e pobre, que morreu vítima de um agressivo câncer cervical. A retirada foi feita sem o consentimento e conhecimento da família Lacks.

Henrietta Lacks com seu marido David, por volta de 1945 (The New York Time)
As células de Henrietta Lacks rapidamente se reproduziram em laboratório e hoje, um tubo de ensaio com as células HeLa custa 25 dólares. Mais de 60 anos após a morte de Henrietta Lacks, elas são usadas por cientistas no mundo em pesquisas sobre quase todo o tipo de doença. Elas eventualmente ajudaram a conduzir a uma infinidade de tratamentos médicos e lançou as bases para a indústria de biotecnologia de bilhões de dólares. O caso virou até livro, A Vida Imortal de Henrietta Lacks , escrito pela jornalista Rebecca Skloot em 2010 e publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2011.

Cultura de células HeLa em laboratório dos EUA (Natasha Madov)
   Em março deste ano o caso voltou a tona, pesquisadores alemães fizeram o sequenciamento genético das células HeLa. Os dados ficaram disponíveis na para livre acesso por alguns dias. 
   “Eu fiquei chocado e um pouco desapontado ao saber que as informações de Henrietta estavam lá, disse Jari Lacks Whye, neto de Henrietta Lacks, em entrevista coletiva à imprensa nesta quarta-feira (7). Era como se os registros médicos dela estivessem para serem vistos num clique. Eles não vieram nos perguntar nada. Era como se a história estivesse se repetindo”, disse.
   O instituto alemão retirou os dados para dowload na internet e se desculpou. Porém, desta vez, a família teria a sua privacidade ainda mais devassada. Como o DNA é herdado, informações do DNA de células de Henrietta Lacks poderiam ser usadas para fazer predições sobre o risco de doença e de outros traços de seus descendentes modernos.

Imagem fluorescente de cultura de células HeLa: vendida a 25 dólares o tubo de ensaio (Getty Images)

   A família Lacks nunca tomou parte ou foi questionada sobre os mais de 74 mil estudos que tiveram as células HeLa como base. Porém um acordo com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos deve mudar isto. Eles terão controle sobre o acesso de cientistas ao DNA das células HeLa. A família também vai ficar sabendo sobre estudos científicos. No acordo, dois membros da família farão parte do comitê de seis pessoas que regula o acesso ao código genético.
 "O cientista tem que fazer ciência, mas precisa ter sensibilidade e entender o que as pessoas precisam. E esta é uma forma de reparmos o que foi feito com a família Lacks", disse em coletiva de imprensa, Francis S. Collins, diretor do NIH.

Fósseis chineses propõem teorias diferentes para origem de mamíferos

Dois fósseis são possíveis chaves para entender origem de mamíferos.Ainda existem muitas divergências sobre o surgimento da classe.

Ilustração mostra Megaconus no que seria seu habitat natural.
 (Foto: April Isch/Universidade de Chicago)
  Dois fósseis descobertos na China, que datam de 160 a 165 milhões de anos atrás, propõem duas teorias diferentes sobre a origem dos mamíferos. Os achados foram descritos e publicados na revista “Nature” desta semana.
  Ainda existem muitas divergências sobre a origem exata dos mamíferos. O consenso é que eles já estavam espalhados e diversificados no período Jurássico. Mas ainda não se sabe com precisão quando eles tiveram origem.
  As pesquisas baseiam-se em dois fósseis perfeitamente conservados do grupo dos Haramiyida. Um foi denominado Arboroharamiya e o outro, Megaconus. Os fósseis mais antigos dos Haramiyida, que são considerados mamíferos primitivos, datam de até 50 milhões de anos antes das primeiras evidências de mamíferos.
  Por terem dentes com características similares aos roedores, têm semelhanças com outro grupo extinto: os multituberculata, que foram colocados pelos cientistas na origem dos mamíferos.

Imagem mostra fotografia de fóssil da espécie
Megaconus descoberta na China. (Foto: Zhe-Xi Luo/
Universidade de Chicago)
  O Arboroharamiya, descoberto e analisado por pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências, da Universidade de Linyi, na China, e da Indiana University of Pennsylvania, é adaptado para viver em árvores e pode ter sido onívoro ou herbívoro. Os ossos da orelha assumiram uma configuração típica de mamíferos.
  Os resultados colocam os animais desse grupo junto com o grupo dos Multituberculata na origem dos mamíferos. Isso implica que os mamíferos tiveram origem pelo menos 215 milhões de anos atrás, muito antes do que os paleontologistas aceitavam até então.  Já o Megaconus, descrito por pesquisadores da Universidade de Chicago, da Universidade de Bonn, na Alemanha, da Universidade Normal de Shenyang e da Universidade de Medicina de Tianjin, ambas da China, é aparentemente adaptado para a vida terrestre e tinha uma dieta baseada em plantas. A formação óssea da orelha e dos tornozelos assemelham-se mais com grupos mais primitivos.
  Os pesquisadores interpretam essas informações constatando que os Haramiyida são um grupo mais primitivo do que os Multituberculata e que se encontra fora da classe dos mamíferos. A partir desses dados, os cientistas concluíram que a origem dos mamíferos seria bem mais recente, no período Jurássico Médio.
  “Essas genealogias divergentes tem implicações profundamente diferentes para a origem e a diversificação inicial dos mamíferos”, escreveram Richard Cifelli e Brian Davis em um artigo publicado na mesma edição da “Nature”.
  Eles enfatizam que nenhum dos dois estudos explicam perfeitamente os dados revelados pelos fósseis e que mais estudos terão de ser realizados para compreender melhor as informações.

Ilustração do Arboroharamiya, animal com corpo adaptado
para vida nas árvores. (Foto: Zhao Chuang)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Identificada provável transmissão de gripe aviária entre humanos

Especialistas dizem que ainda é cedo para se falar em epidemia, mas alertam que essa hipótese não está descartada.

Até o último dia 30 de junho, foram registrados 133 casos de H7N9
 no leste da China, com 43 mortes (Foto: Reuters)

   Pesquisadores dizem ter identificado, pela primeira vez, uma 'provável transmissão' entre humanos de um novo tipo de vírus da gripe aviária.  A publicação científica 'British Medical Journal' (Jornal Britânico de Medicina) reportou que uma mulher de 32 anos foi infectada pelo pai, do qual ela cuidava por estar também com o vírus. Os dois morreram. O caso ocorreu na China.
  Até o momento, não se tinha nenhuma evidência de qualquer pessoa infectada pelo vírus H7N9 por contato com outros humanos. Só havia casos registrados de pessoas que tiveram contato direto com aves infectadas - transmissão animal-humanos.
  Apesar da má notícia, especialistas dizem que isso não significa que o H7N9 tenha a habilidade de se espalhar facilmente entre humanos.
  Até o último dia 30 de junho, foram registrados 133 casos de H7N9 no leste da China, com 43 mortes.
  Na maioria dos casos chineses, as pessoas infectadas ou que morreram visitaram mercados de venda de aves e tiveram contato próximo com animais vivos uma ou duas semanas antes de ficarem doentes.
  

Cuidado intensivo

  Os pesquisadores já identificaram que a mulher de 32 anos que morreu na China foi infectada em março, depois de cuidar do pai, de 60 anos de idade, que estava no hospital.  Diferentemente do pai, que visitou um mercado de aves uma semana antes de ficar doente, ela não teve contato conhecido com qualquer ave, mas ficou doente seis dias depois do último contato com ele.
  Os dois morreram em unidades de cuidado intensivo depois de falhas múltiplas dos órgãos.
  Testes feitos no vírus que infectou os dois pacientes mostraram que os tipos identificados eram praticamente idênticos geneticamente, o que reforça a teoria de que a filha foi diretamente infectada pelo pai.
  Autoridades de saúde pública da China testaram 43 pessoas que tiveram contato com os pacientes, mas todos apresentaram resultado negativo para o vírus H7N9, o que sugere que a habilidade desse tipo de vírus de se espalhar é limitada.
  Os pesquisadores disseram que, enquanto não houver evidência para sugerir que o vírus ganhou a habilidade de se espalhar de pessoa para pessoa eficientemente, este foi o primeiro caso de 'provável transmissão' de humano para humano.

Alarme

  'Nossos achados reforçam que o novo vírus possui um potencial para uma contaminação pandêmica (difusão do vírus em nível global)', afirmaram os pesquisadores chineses.  Para James Rudge, professor da Escola de Higiêne e Medicina Tropical de Londres (London School of Hygiene and Tropical Medicine), a transmissão limitada do vírus H7N9 não é uma surpresa e já foi identificada em outros tipos de gripe aviária, como o H5N1, que depois alcançaram níveis de contaminação de pessoa para pessoa em escala mundial.
  'Seria muito preocupante se começarmos a ver longas cadeias de transmissão entre pessoas, quando uma pessoa infecta uma pessoa, que depois infecta mais e mais pessoas'.
  'Particularmente, se uma pessoa infectada continua a infectar outros - em média, mais do que uma outra pessoa - isso será um forte alarme de que estaremos num estágio inicial de uma epidemia', explica Rudge.
  Um editorial da publicação científica 'British Medical Journal', do qual o professor James Rudge foi coautor, concluiu que o caso chinês sugere que o H7N9 está perto de se desenvolver em nossa próxima pandemia. 'Isso reforça o lembrete de que temos que permanecer extremamente vigilantes'.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pesquisa pode originar a cura para alergia a gatos

Novo estudo identificou o receptor celular que reconhece e desencadeia uma reação alérgica à substância presente na saliva e na pele dos gatos. Em testes iniciais, remédio que bloqueia a ação do receptor conseguiu evitar alergias

   Uma descoberta científica pode levar à cura da alergia a gatos. Isso porque uma equipe internacional de pesquisadores identificou o receptor celular responsável por reconhecer as substâncias microscópicas que se desprendem da pele e saliva desses animais e, assim, desencadeiam uma reação alérgica do organismo. E, em testes feitos em laboratórios, os especialistas observaram que uma droga que inibe esse receptor é capaz de evitar episódios de alergia.

Gatos: a principal causa da alergia a esses animais é uma proteína denominada Fel d 1,
 encontrada em partículas de pele e saliva (Thinkstock)

   O novo estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Inglaterra, Suécia e Estados Unidos, e os seus resultados, publicados no periódico Journal of Immunology.
   Os sintomas característicos da alergia – espirros, coceira e dificuldade para respirar – são causados por uma resposta exagerada do sistema imunológico a alguma substância externa ao corpo. O sistema de defesa do organismo acaba causando a alergia quando identifica perigo em um elemento, como as partículas da pele dos animais, e inicia uma resposta contra ele.
   Sabe-se que a causa mais comum da alergia a gatos é uma proteína denominada Fel d 1, encontrada em partículas microscópicas que se desprendem da pele e saliva desses animais — uma espécie de caspa invisível a olho nu.
   No novo estudo, os pesquisadores identificaram que um receptor chamado TLR4 é a parte do sistema imunológico responsável por reconhecer essa proteína. O organismo de algumas pessoas, porém, possui um sistema imunológico mais sensível à proteína do gato. Nesses casos, o corpo, depois de reconhecer a proteína, desencadeia uma resposta imunológica exagerada.
   Solução — A partir desse achado, os autores da pesquisa resolveram fazer um teste de laboratório. Em células humanas, a equipe utilizou um medicamento que limita a resposta do TLR4 e, com isso, conseguiu bloquear os efeitos da proteína Fel d 1 nas células, evitando uma reação do sistema imunológico. Para os pesquisadores, essa descoberta pode abrir caminho para novos tratamentos para pessoas alérgicas a gatos e, possivelmente, também a cachorros.

FONTE: revista Veja

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cientistas dizem estar perto de criar exame de sangue para Alzheimer

Nova técnica mostra diferenças entre minúsculos fragmentos de material genético que flutuam no sangue.

   Cientistas alemães afirmam que acreditam estar próximos de criar um novo exame de sangue para diagnosticar o Mal de Alzheimer.
   Ainda não há um exame definitivo para a doença, e os médicos atualmente contam apenas com testes de cognição e exames de imagens do cérebro para identificar o problema.
   Um dos grandes desafios relacionados à doença é identicar novas formas de conseguir um diagnóstico precoce.

Pesquisadores dizem estar perto de identificar
Alzheimer com exame de sangue (Foto: Getty/BBC)


   Com isso, espera-se que, no futuro, talvez até anos antes dos primeiros sintomas, os tratamentos possam começar antes que grandes partes do cérebro sejam comprometidas. Mas, para isso, novos exames serão necessários.
   A nova técnica, divulgada na revista especializada "Genome Biology", apontou diferenças nos minúsculos fragmentos de material genético flutuando no sangue que poderiam ser usados para identificar pacientes com a doença.
   Até o momento, apenas 202 pessoas passaram por este exame, mas a precisão neste grupo foi de 93%.

Níveis diferentes

   A equipe da Universidade de Saarland, na Alemanha, analisou 140 microRNAs fragmentos de código genético em pacientes com Alzheimer e em pessoas saudáveis.   Eles encontraram 12 microRNAs no sangue que estavam presentes em níveis diferentes nas pessoas que tinham Alzheimer. Estas amostras se transformaram na base do exame.
   Os primeiros testes do exame mostraram que ele "conseguiu diferenciar com grande precisão de diagnóstico os pacientes com Alzheimer e as pessoas saudáveis".
   No entanto, mais pesquisas são necessárias para melhorar a precisão do exame e verificar se é possível usá-lo em hospitais.
   Eric Karran, de uma organização de caridade britânica especializada em Alzheimer, a Alzheimer Research UK, afirmou que o exame dos cientistas alemães pode representar uma nova abordagem para estudar as mudanças no sangue de pacientes com a doença e também indica que o microRNA tenha influência nos quadros de Alzheimer.
   No entanto, para Karran, ainda serão necessários alguns anos para se chegar ao ponto de diagnosticar a doença com um simples exame de sangue.
   "Um exame de sangue para ajudar a detectar o Alzheimer pode ser uma adição útil ao arsenal de diagnóstico de um médico, mas este exame deve ser muito bem corroborado antes de ser considerado para o uso."
   "Precisamos ver se essas descobertas são confirmadas em amostras maiores, e é preciso mais trabalho para melhorar a habilidade do exame de diferenciar Alzheimer de outras doenças neurológicas", acrescentou.

FONTE: G1

‘Hormônio do amor’ pode aumentar o medo e a ansiedade

Pesquisa americana descobre que a oxitocina reforça memórias sociais negativas, podendo aumentar a ansiedade, o medo e o stress

   A oxitocina é conhecida como o “hormônio do amor”. Descoberta no início do século 20, essa molécula está diretamente relacionada à empatia, à moral e ao laço afetivo entre uma mãe e seu bebê. Nos últimos anos, descobriu-se ainda que a oxitocina é liberada durante o sexo e que ela tem um papel preponderante na confiança e cooperação entre animais. Seu viés positivo levou a diversos testes clínicos para o uso farmacológico desse hormônio, como o tratamento da ansiedade exacerbada. Mas agora, uma nova pesquisa vem engrossar o ainda pequeno número de evidências que apontam para um lado obscuro da oxitocina. De acordo com um estudo da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, esse hormônio pode causar sofrimento, como uma sensação aumentada de medo e de stress. O estudo foi publicado no periódico Nature Neuroscience.

Oxitocina: conhecido pelo seu papel positivo na empatia social, o
 hormônio também está relacionado com sensações de ansiedade e stress (Thinkstock)

   Segundo o estudo americano, a oxitocina aparenta ser o motivo pelo qual situações estressantes, como sofrer bullying na escola ou mesmo ser atormentado pelo chefe, podem desencadear sentimentos ruins depois de um tempo do evento. Para isso, o hormônio age fortalecendo a experiência social em uma área específica do cérebro. Em outras palavras, isso significa que se um acontecimento social é negativo ou estressante, o hormônio acaba por intensificar essa memória.
   Pesquisa — Como o stress social crônico é uma das principais causas de ansiedade e depressão, conhecer esse lado “negro” do hormônio se torna fundamental. Ainda mais por causa do grande número de estudos clínicos sobre seu uso terapêutico no controle da ansiedade. “Ao compreender o sistema duplo da oxitocina em desencadear e reduzir a ansiedade, dependendo do contexto social, podemos melhorar os tratamentos com esse hormônio”, diz Jelena Radulovic, autora sênior do estudo e professora na Escola de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern.
   Os pesquisadores descobriram que a oxitocina fortalece memórias sociais negativas e ansiedades futuras ao desencadear uma importante molécula de sinalização, conhecida como ERK. Essa molécula se torna ativa por seis horas depois de ocorrida uma experiência social negativa. Já a sensação de medo acontece porque a ERK estimula uma região cerebral envolvida em respostas emocionais e com o stress.
   A nova pesquisa é semelhante a três estudos recentes com o hormônio — todos começam a apresentar interpretações complexas do papel do hormônio nas emoções. Esses experimentos foram realizados em uma região cerebral na qual é encontrado o mais alto índice de oxitocina, além de ter uma quantia alta de receptores do hormônio.

FONTE: revista VEJA