segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O poder do esquecimento

A neurociência caminha rapidamente na direção de criar medicamentos capazes de apagar lembranças indesejáveis e memórias traumáticas. Mas será que isso não mudaria nossa personalidade?

Kate Winslet e Jim Carrey no filme 'Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças' (2004):
em breve poderemos apagar as memórias com uma pílula. Valerá a pena? (Reprodução)
   O filme é de 2004, mas ainda está vivo na memória de quem assistiu: Clementine (Kate Winslet) quer esquecer seu ex-namorado Joel (Jim Carrey), e para isso se submete a um tratamento experimental que apaga todas as lembranças dos momentos que passaram juntos. Quase dez anos depois, pesquisadores estão perto de fazer com que a ficção de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças se torne realidade. Em breve, finalmente poderemos deletar fatos traumáticos ou indesejados do passado.
  Se isso vai ser possível, é porque as memórias não são arquivos fixos. Muito recentemente, a neurociência confirmou uma hipótese que surgiu nos anos 1960, mas nunca tinha sido levada a sério: nossas lembranças são muito mais flexíveis do que se pensava — estão mais para uma peça de teatro, com suas mudanças sutis noite após noite, do que para um filme. A cada vez que acessamos uma lembrança, podemos moldá-la novamente. Não por acaso, em Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, quando percebe que foi deletado do passado de Clementine e resolve fazer o mesmo, o personagem Joel precisa relembrar toda sua história com ela. E na medida em que as lembranças veem à tona é que elas podem ser apagadas. Na vida real, o mesmo objetivo pode ser atingido, experimentalmente, bloqueando a síntese das proteínas certas.
  O resgate e a reconsolidação das lembranças depende da ativação de uma vasta conexão de neurônios. Para ser formada, uma memória de um evento qualquer ativa uma série de neurônios, que passam então a ficar conectados. É essa ligação a responsável por lembrarmos do primeiro beijo, por exemplo. Se a transmissão é interrompida exatamente no momento em que determinada memória estava desengavetada, ela não volta mais para seu lugar de origem — o hipocampo, apesar de muitas das lembranças negativas ficarem armazenadas na amígdala.
  "No nível molecular, o processo de arquivar, acessar e armazenar novamente a memória, com pequenas mudanças, é simples", afirma a psicóloga israelense Daniela Schiller, professora da Mount Sinai School of Medicine, em Nova York, e uma das líderes mundiais nas pesquisas sobre formação e consolidação de memórias – seu estudo sobre a maleabilidade das lembranças, publicado em 2010 na respeitadíssima revista Nature, ajudou a mudar a visão tradicional que os próprios cientistas tinham da memória. "Um medicamento que induza a produção de certas proteínas, exatamente no momento em que o paciente está repassando determinada lembrança, faz com que ela desapareça." (Daniela, aliás, se mudou de Telavive para Nova York, a capital dos estudos de ponta sobre memória, porque acreditou no boato, infundado, de que o filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças era baseado em uma experiência real conduzida na cidade. Não era, mas ela acabou entrando em um pós-doutorado sobre memória graças ao erro.)
  Fim dos traumas — Uma das proteínas responsáveis por este processo de reestabilização das conexões neurais é a já conhecida PKMzeta, descoberta pelo neurologista americano Todd Sacktor, que pesquisa o assunto dentro do Sunny Downstate Medical Center, no Brooklyn. E é no desenvolvimento de um medicamento que iniba temporariamente sua produção que os pesquisadores estão trabalhando. O desafio é chegar a uma pílula que funcione por pouco tempo e com precisão cirúrgica: apenas nos circuitos neurais corretos.
  Enquanto isso não é possível, existem formas de apagar a lembrança indesejada antes que ela se consolide. Como a memória é formada em duas etapas, já é possível neutralizar a primeira, a chamada memória de curto prazo. "Existem medicamentos que bloqueiam a transformação das memórias de curto prazo em definitivas. Mas não é possível selecionar a lembrança que se quer apagar", diz Sacktor. Ou seja: se a pessoa recebe o tratamento imediatamente após o incidente traumático, ela não vai se lembrar de absolutamente nada do que aconteceu nos minutos anteriores. O exército americano está especialmente interessado neste tipo de pesquisa.
  Também já é possível modificar a lembrança, para que ela pareça menos terrível. Um estudo realizado na Universidade McGill, no Canadá, com dez pacientes de stress pós-traumático, alcançou resultados expressivos usando uma droga chamada propranolol, ministrada enquanto as pessoas contavam, em voz alta, os detalhes dos incidentes traumáticos pelos quais passaram.
  A droga, também usada de forma experimental no tratamento de ansiedade, alterou os circuitos neuronais o suficiente para que as lembranças fossem rearmazenadas, agora sem a mesma carga de stress. Uma semana depois, os pacientes voltaram para a universidade e contaram novamente suas histórias. Já não apresentavam sintomas de stress, como o batimento cardíaco acelerado observado no grupo de controle, formado por nove pessoas. Este tipo de tratamento poderia ser usado para casos de ataques de pânico – ele poderia amenizar o pavor de ambientes fechados, ou de aranhas, por exemplo.
  Implicações éticas — Mas um remédio capaz de apagar memórias pode ser perigoso. Ele poderia, em tese, ser usado contra a vontade do paciente. E pode descaracterizar nossa personalidade. "Nós somos o o resultado dos relatos que fazemos sobre nossa própria existência", afirma Todd Sacktor. O americano Henry Gustav Molaison é a prova disso. Em 1953, ele fez uma cirurgia para conter sua epilepsia: o neurocirurgião tirou metade de seu hipocampo e toda a amígdala. Quando acordou, Henry não era mais capaz de armazenar nenhuma memória e apenas se lembrava de seu passado antes da cirurgia. Até a morte aos 82 anos, em 2008, ele se olhava no espelho e não se reconhecia: tinha certeza de ter eternamente 27 anos, a mesma idade com que fez a cirurgia.
  Daniela Schiller defende que este tipo de tratamento deverá ser usado com parcimônia extrema. "As memórias indesejadas também fazem parte do que somos, e muitas vezes nos impedem de repetir erros do passado", diz. "Mas, em casos de stress pós-traumático, o trauma é tão profundo que a lembrança não fica mais fraca com o tempo. E isso inviabiliza uma rotina normal e saudável. Para estas pessoas, o tratamento pode trazer um grande alívio". É o caso, por exemplo, de pessoas que sofreram ou presenciaram acidentes graves, veteranos de guerra ou vítimas de sequestros, estupros e tortura. Contudo, é bom lembrar que em Brilho Eterno apagar as memórias do prévio relacionamento não evita que Clementine e Joel voltem a ficar juntos e passem pelos mesmos problemas de antes.

domingo, 11 de agosto de 2013

Cripta centenária é aberta na tentativa de identificar modelo da 'Mona Lisa'

Cientistas estão à procura de restos de descendentes de Lisa Gherardini.Eles acreditam que Lisa pode ter sido a modelo do quadro de Da Vinci.

O historiador Silvano Vicenti e o geólogo Antonio Moretti (baixo) exploram o subsolo da basílica Santissima Annunziata, em Florença, Itália. Eles tentam identificar restos mortais de descendentes de Lisa Gherardini, suposta Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. (Foto: Michele Barbero/AP e Stefano Rellandini/Reuters)

   Pesquisadores abriram uma cripta centenária em uma igreja de Florença, na Itália, para procurar amostras que poderão ajudar na identificação dos restos de Lisa Gherardini, que possivelmente foi a modelo que posou para que Leonardo da Vinci pintasse a “Mona Lisa”.
   Os cientistas liderados por Silvano Vicenti fizeram um buraco para entrar na cripta do comerciante Francesco del Giocondo, o marido de Lisa Gherardini. Ali eles esperam encontrar restos de algum descendente dela - seu filho Piero, por exemplo.
   Vicenti e sua equipe querem comparar o DNA desses restos mortais com os de três mulheres que estavam sepultadas num convento abandonado perto dali, onde se acredita que Lisa tenha passado seus últimos dias.
   Se o DNA de alguma das três “bater” com o da amostra retirada da cripa da família de Giocondo, Lisa estará identificada, acredita Vicenti. Então, será possível fazer uma reconstituição do rosto da ossada e compará-la com o quadro.
A obra 'A Gioconda', também conhecida como
'Mona Lisa', de Leonardo da Vinci (Foto: Musée du
Louvre Paris / Alfredo Dagli Orti/ AFP)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vacina brasileira contra a Aids será testada em macacos

Imunizante desenvolvido e patenteado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP mostrou alta potência em camundongos

HIV: com duração prevista de 24 meses, experimentos têm o objetivo de encontrar
o método de imunização mais eficaz para ser usado em humanos

  São Paulo – Uma vacina brasileira contra o vírus HIV, causador da Aids, começará a ser testada em macacos no segundo semestre deste ano. Com duração prevista de 24 meses, os experimentos têm o objetivo de encontrar o método de imunização mais eficaz para ser usado em humanos. Concluída essa fase, e se houver financiamento suficiente, poderão ter início os primeiros ensaios clínicos.   Denominado HIVBr18, o imunizante foi desenvolvido e patenteado pelos pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Edecio Cunha Neto, Jorge Kalil e Simone Fonseca. Atualmente, o projeto é conduzido no âmbito do Instituto de Investigação em Imunologia, um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), um programa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apoiado pela FAPESP no Estado de São Paulo.
   O trabalho teve início em 2001, com apoio de um Auxílio Regular sob a coordenação de Cunha Neto. Em parceria com Kalil, o pesquisador analisou o sistema imunológico de um grupo especial de portadores do vírus que mantinham o HIV sobre controle por mais tempo e demoravam para adoecer. No sangue dessas pessoas, a quantidade de linfócitos T do tipo CD4 – o principal alvo do HIV – permanecia mais elevada que o normal.
   “Já se sabia que as células TCD4 são responsáveis por acionar os linfócitos T do tipo CD8, produtores de toxinas que matam as células infectadas. As TCD4 acionam também os linfócitos B, produtores de anticorpos. Mas estudos posteriores mostraram que um tipo específico de linfócito TCD4 poderia também ter ação citotóxica sobre as células infectadas. Os portadores de HIV que tinham as TCD4 citotóxicas conseguiam manter a quantidade de vírus sob controle na fase crônica da doença”, contou Cunha Neto.
Os pesquisadores então isolaram pequenos pedaços de proteínas das áreas mais preservadas do vírus HIV – aquelas que se mantêm estáveis em quase todas as cepas. Com auxílio de um programa de computador, selecionaram os peptídeos que tinham mais chance de serem reconhecidos pelos linfócitos TCD4 da maioria dos pacientes. Os 18 peptídeos escolhidos foram recriados em laboratório e codificados dentro de um plasmídeo – uma molécula circular de DNA.
Testes in vitro feitos com amostras de sangue de 32 portadores de HIV com condições genéticas e imunológicas bastante variadas mostraram que, em mais de 90% dos casos, pelo menos um dos peptídeos foi reconhecido pelas células TCD4. Em 40% dos casos, mais de cinco peptídeos foram identificados. Os resultados foram divulgados em 2006 na revista Aids.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

EUA tentam reparar uso de dados genéticos de família de Henrietta Lacks

Células retiradas de paciente morta em 1951, sem o consentimento da família, revolucionaram a medicina

   Um dos casos mais interessantes sobre privacidade na ciência e uso de dados genéticos de uma família começa a ser reparado. Nesta semana, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (na sigla em inglês, NIH) entrou finalmente em acordo com a família de Henrietta Lacks sobre o acesso ao sequenciamento genético das células apelidadas de HeLa.
   As células tumorais HeLa são as mais estudadas em todo o mundo. Pesquisadores do Hospital Johns Hopkins, em Baltimore (EUA) retiraram, em 1951, o tecido tumoral de Henrietta Lacks, mulher de 31 anos negra e pobre, que morreu vítima de um agressivo câncer cervical. A retirada foi feita sem o consentimento e conhecimento da família Lacks.

Henrietta Lacks com seu marido David, por volta de 1945 (The New York Time)
As células de Henrietta Lacks rapidamente se reproduziram em laboratório e hoje, um tubo de ensaio com as células HeLa custa 25 dólares. Mais de 60 anos após a morte de Henrietta Lacks, elas são usadas por cientistas no mundo em pesquisas sobre quase todo o tipo de doença. Elas eventualmente ajudaram a conduzir a uma infinidade de tratamentos médicos e lançou as bases para a indústria de biotecnologia de bilhões de dólares. O caso virou até livro, A Vida Imortal de Henrietta Lacks , escrito pela jornalista Rebecca Skloot em 2010 e publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2011.

Cultura de células HeLa em laboratório dos EUA (Natasha Madov)
   Em março deste ano o caso voltou a tona, pesquisadores alemães fizeram o sequenciamento genético das células HeLa. Os dados ficaram disponíveis na para livre acesso por alguns dias. 
   “Eu fiquei chocado e um pouco desapontado ao saber que as informações de Henrietta estavam lá, disse Jari Lacks Whye, neto de Henrietta Lacks, em entrevista coletiva à imprensa nesta quarta-feira (7). Era como se os registros médicos dela estivessem para serem vistos num clique. Eles não vieram nos perguntar nada. Era como se a história estivesse se repetindo”, disse.
   O instituto alemão retirou os dados para dowload na internet e se desculpou. Porém, desta vez, a família teria a sua privacidade ainda mais devassada. Como o DNA é herdado, informações do DNA de células de Henrietta Lacks poderiam ser usadas para fazer predições sobre o risco de doença e de outros traços de seus descendentes modernos.

Imagem fluorescente de cultura de células HeLa: vendida a 25 dólares o tubo de ensaio (Getty Images)

   A família Lacks nunca tomou parte ou foi questionada sobre os mais de 74 mil estudos que tiveram as células HeLa como base. Porém um acordo com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos deve mudar isto. Eles terão controle sobre o acesso de cientistas ao DNA das células HeLa. A família também vai ficar sabendo sobre estudos científicos. No acordo, dois membros da família farão parte do comitê de seis pessoas que regula o acesso ao código genético.
 "O cientista tem que fazer ciência, mas precisa ter sensibilidade e entender o que as pessoas precisam. E esta é uma forma de reparmos o que foi feito com a família Lacks", disse em coletiva de imprensa, Francis S. Collins, diretor do NIH.

Fósseis chineses propõem teorias diferentes para origem de mamíferos

Dois fósseis são possíveis chaves para entender origem de mamíferos.Ainda existem muitas divergências sobre o surgimento da classe.

Ilustração mostra Megaconus no que seria seu habitat natural.
 (Foto: April Isch/Universidade de Chicago)
  Dois fósseis descobertos na China, que datam de 160 a 165 milhões de anos atrás, propõem duas teorias diferentes sobre a origem dos mamíferos. Os achados foram descritos e publicados na revista “Nature” desta semana.
  Ainda existem muitas divergências sobre a origem exata dos mamíferos. O consenso é que eles já estavam espalhados e diversificados no período Jurássico. Mas ainda não se sabe com precisão quando eles tiveram origem.
  As pesquisas baseiam-se em dois fósseis perfeitamente conservados do grupo dos Haramiyida. Um foi denominado Arboroharamiya e o outro, Megaconus. Os fósseis mais antigos dos Haramiyida, que são considerados mamíferos primitivos, datam de até 50 milhões de anos antes das primeiras evidências de mamíferos.
  Por terem dentes com características similares aos roedores, têm semelhanças com outro grupo extinto: os multituberculata, que foram colocados pelos cientistas na origem dos mamíferos.

Imagem mostra fotografia de fóssil da espécie
Megaconus descoberta na China. (Foto: Zhe-Xi Luo/
Universidade de Chicago)
  O Arboroharamiya, descoberto e analisado por pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências, da Universidade de Linyi, na China, e da Indiana University of Pennsylvania, é adaptado para viver em árvores e pode ter sido onívoro ou herbívoro. Os ossos da orelha assumiram uma configuração típica de mamíferos.
  Os resultados colocam os animais desse grupo junto com o grupo dos Multituberculata na origem dos mamíferos. Isso implica que os mamíferos tiveram origem pelo menos 215 milhões de anos atrás, muito antes do que os paleontologistas aceitavam até então.  Já o Megaconus, descrito por pesquisadores da Universidade de Chicago, da Universidade de Bonn, na Alemanha, da Universidade Normal de Shenyang e da Universidade de Medicina de Tianjin, ambas da China, é aparentemente adaptado para a vida terrestre e tinha uma dieta baseada em plantas. A formação óssea da orelha e dos tornozelos assemelham-se mais com grupos mais primitivos.
  Os pesquisadores interpretam essas informações constatando que os Haramiyida são um grupo mais primitivo do que os Multituberculata e que se encontra fora da classe dos mamíferos. A partir desses dados, os cientistas concluíram que a origem dos mamíferos seria bem mais recente, no período Jurássico Médio.
  “Essas genealogias divergentes tem implicações profundamente diferentes para a origem e a diversificação inicial dos mamíferos”, escreveram Richard Cifelli e Brian Davis em um artigo publicado na mesma edição da “Nature”.
  Eles enfatizam que nenhum dos dois estudos explicam perfeitamente os dados revelados pelos fósseis e que mais estudos terão de ser realizados para compreender melhor as informações.

Ilustração do Arboroharamiya, animal com corpo adaptado
para vida nas árvores. (Foto: Zhao Chuang)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Identificada provável transmissão de gripe aviária entre humanos

Especialistas dizem que ainda é cedo para se falar em epidemia, mas alertam que essa hipótese não está descartada.

Até o último dia 30 de junho, foram registrados 133 casos de H7N9
 no leste da China, com 43 mortes (Foto: Reuters)

   Pesquisadores dizem ter identificado, pela primeira vez, uma 'provável transmissão' entre humanos de um novo tipo de vírus da gripe aviária.  A publicação científica 'British Medical Journal' (Jornal Britânico de Medicina) reportou que uma mulher de 32 anos foi infectada pelo pai, do qual ela cuidava por estar também com o vírus. Os dois morreram. O caso ocorreu na China.
  Até o momento, não se tinha nenhuma evidência de qualquer pessoa infectada pelo vírus H7N9 por contato com outros humanos. Só havia casos registrados de pessoas que tiveram contato direto com aves infectadas - transmissão animal-humanos.
  Apesar da má notícia, especialistas dizem que isso não significa que o H7N9 tenha a habilidade de se espalhar facilmente entre humanos.
  Até o último dia 30 de junho, foram registrados 133 casos de H7N9 no leste da China, com 43 mortes.
  Na maioria dos casos chineses, as pessoas infectadas ou que morreram visitaram mercados de venda de aves e tiveram contato próximo com animais vivos uma ou duas semanas antes de ficarem doentes.
  

Cuidado intensivo

  Os pesquisadores já identificaram que a mulher de 32 anos que morreu na China foi infectada em março, depois de cuidar do pai, de 60 anos de idade, que estava no hospital.  Diferentemente do pai, que visitou um mercado de aves uma semana antes de ficar doente, ela não teve contato conhecido com qualquer ave, mas ficou doente seis dias depois do último contato com ele.
  Os dois morreram em unidades de cuidado intensivo depois de falhas múltiplas dos órgãos.
  Testes feitos no vírus que infectou os dois pacientes mostraram que os tipos identificados eram praticamente idênticos geneticamente, o que reforça a teoria de que a filha foi diretamente infectada pelo pai.
  Autoridades de saúde pública da China testaram 43 pessoas que tiveram contato com os pacientes, mas todos apresentaram resultado negativo para o vírus H7N9, o que sugere que a habilidade desse tipo de vírus de se espalhar é limitada.
  Os pesquisadores disseram que, enquanto não houver evidência para sugerir que o vírus ganhou a habilidade de se espalhar de pessoa para pessoa eficientemente, este foi o primeiro caso de 'provável transmissão' de humano para humano.

Alarme

  'Nossos achados reforçam que o novo vírus possui um potencial para uma contaminação pandêmica (difusão do vírus em nível global)', afirmaram os pesquisadores chineses.  Para James Rudge, professor da Escola de Higiêne e Medicina Tropical de Londres (London School of Hygiene and Tropical Medicine), a transmissão limitada do vírus H7N9 não é uma surpresa e já foi identificada em outros tipos de gripe aviária, como o H5N1, que depois alcançaram níveis de contaminação de pessoa para pessoa em escala mundial.
  'Seria muito preocupante se começarmos a ver longas cadeias de transmissão entre pessoas, quando uma pessoa infecta uma pessoa, que depois infecta mais e mais pessoas'.
  'Particularmente, se uma pessoa infectada continua a infectar outros - em média, mais do que uma outra pessoa - isso será um forte alarme de que estaremos num estágio inicial de uma epidemia', explica Rudge.
  Um editorial da publicação científica 'British Medical Journal', do qual o professor James Rudge foi coautor, concluiu que o caso chinês sugere que o H7N9 está perto de se desenvolver em nossa próxima pandemia. 'Isso reforça o lembrete de que temos que permanecer extremamente vigilantes'.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pesquisa pode originar a cura para alergia a gatos

Novo estudo identificou o receptor celular que reconhece e desencadeia uma reação alérgica à substância presente na saliva e na pele dos gatos. Em testes iniciais, remédio que bloqueia a ação do receptor conseguiu evitar alergias

   Uma descoberta científica pode levar à cura da alergia a gatos. Isso porque uma equipe internacional de pesquisadores identificou o receptor celular responsável por reconhecer as substâncias microscópicas que se desprendem da pele e saliva desses animais e, assim, desencadeiam uma reação alérgica do organismo. E, em testes feitos em laboratórios, os especialistas observaram que uma droga que inibe esse receptor é capaz de evitar episódios de alergia.

Gatos: a principal causa da alergia a esses animais é uma proteína denominada Fel d 1,
 encontrada em partículas de pele e saliva (Thinkstock)

   O novo estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Inglaterra, Suécia e Estados Unidos, e os seus resultados, publicados no periódico Journal of Immunology.
   Os sintomas característicos da alergia – espirros, coceira e dificuldade para respirar – são causados por uma resposta exagerada do sistema imunológico a alguma substância externa ao corpo. O sistema de defesa do organismo acaba causando a alergia quando identifica perigo em um elemento, como as partículas da pele dos animais, e inicia uma resposta contra ele.
   Sabe-se que a causa mais comum da alergia a gatos é uma proteína denominada Fel d 1, encontrada em partículas microscópicas que se desprendem da pele e saliva desses animais — uma espécie de caspa invisível a olho nu.
   No novo estudo, os pesquisadores identificaram que um receptor chamado TLR4 é a parte do sistema imunológico responsável por reconhecer essa proteína. O organismo de algumas pessoas, porém, possui um sistema imunológico mais sensível à proteína do gato. Nesses casos, o corpo, depois de reconhecer a proteína, desencadeia uma resposta imunológica exagerada.
   Solução — A partir desse achado, os autores da pesquisa resolveram fazer um teste de laboratório. Em células humanas, a equipe utilizou um medicamento que limita a resposta do TLR4 e, com isso, conseguiu bloquear os efeitos da proteína Fel d 1 nas células, evitando uma reação do sistema imunológico. Para os pesquisadores, essa descoberta pode abrir caminho para novos tratamentos para pessoas alérgicas a gatos e, possivelmente, também a cachorros.

FONTE: revista Veja