A varíola, uma das doenças que mais matou no mundo e que foi erradicada há três décadas, continua viva, e sob máxima segurança, em dois laboratórios - um na Rússia e outro nos Estados Unidos. No entanto, muitos países afirmam que o mundo seria mais seguro se estas amostras de vírus fossem destruídas.
A expectativa é que na reunião da Organização Mundial da Saúde (OMS), que acontece na próxima semana, os países peçam mais uma vez pela extinção do vírus. E mais uma vez, parece que seus esforços serão inúteis.
Os governos russo e americano disseram que as amostras de varíola são essenciais no caso de uma futura ameaça biológica que exija mais testes com o vírus, além de serem necessárias para a pesquisa e desenvolvimento de vacinas experimentais.
Em 1996, os países membros da OMS acordaram, pela primeira vez, que a varíola deveria ser destruída, mas a demanda tem sido adiada repetidas vezes para que cientistas possam desenvolver melhores vacinas e medicamentos contra a doença. Mas o trabalho parece já ter sido feito. Atualmente, existem dois tipos de vacina contra a doença e uma terceira está sendo desenvolvida. Além disso, há uma série de drogas experimentais para tratar a varíola.
Escultura em vidro do vírus da varíola: doença letal
Embora a maioria dos países tenha votado pela destruição, a OMS não tem o poder de determinar a decisão.
A comunidade científica permanece dividida sobre quando as amostras de varíolas devem ser destruídas. O periódico científico Nature publicou um editorial contra a destruição este ano argumentando que cientistas necessitariam fazer estudo futuros caso ocorresse um período de ataques biológicos. No entanto, uma das figuras mais proeminentes na erradicação desta doença se apresenta a favor de extinguir todos os vestígios da varíola.
“Seria uma excelente ideia destruir as amostras de varíola”, disse Donald A. Henderson, que liderou os esforços da OMS para a erradicação da doença na década de 1970. “Este é um organismo que deve ser temido”. Ele afirma que a posse de amostras do vírus da doença por pessoas não autorizadas poderiam ser consideradas um crime contra a humanidade e que as autoridades internacionais devem processar qualquer país onde as amostras sejam encontradas.
Um relatório feito por pesquisadores independente e encomendado pela OMS no ano passado concluiu que não havia nenhuma razão científica para manter a doença viva e que os estoques eram necessários apenas para o desenvolvimento de tratamento avançado.
A varíola é uma das doenças mais letais da história. Durante séculos, matou cerca de um terço de todas as pessoas que foram infectadas, incluindo a rainha Mary II da Inglaterra, e deixou a maioria dos sobreviventes com cicatrizes e profundas lesões no rosto. O último caso relatado foi na Grã-Bretanha em 1978, quando um fotógrafo que trabalhava em um laboratório de manipulação de varíola morreu depois de ser acidentalmente exposto ao vírus.
As vacinas contra a varíola são feitas de vaccinia, um vírus suave. "Nós temos muitas maneiras de olhar para a varíola, incluindo o mapeamento genético, o que significa que não precisamos dos vírus (da varíola) reais", disse Henderson, que atualmente é pesquisador do Centro de Biossegurança da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.
Órgãos americanos e russos discordam da posição de Henderson. Nils Daulaire, diretor do Departamento Americano de Saúde e Serviços Humanos do Gabinete de Assuntos Globais, disse que os Estados Unidos vão voltar a pedir a OMS que adie a decisão de destruir as amostras. Ele afirma que cientistas americanos precisam de mais tempo para concluir as pesquisas sobre o sucesso das novas vacinas e medicamentos contra o vírus. Mas ele reconhece que funcionários dos Estados Unidos também querem as amostras para casos de ataques terroristas biológicos.
Um cientista do laboratório russo, onde o vírus da varíola é mantido, e que prefere não ser identificado, pois ele não estava autorizado a falar à imprensa, disse que o vírus deve ser mantido e que mais estudos são necessários.
(Com informações da AP)