domingo, 30 de outubro de 2011

Entrevista: dos telômeros à origem da vida

   Vencedor do prêmio Nobel de Medicina com o estudo de telômeros, o bioquímico Jack W. Szostak pretende descobrir a origem da vida
    Uma noite antes de ficar sabendo que havia recebido o Prêmio Nobel de medicina, em outubro de 2009, o pesquisador bioquímico Jack W. Szostak diz ter dormido como um bebê.
    ''Eu não perderia uma noite de sono por causa de um trabalho que fiz na década de 1980’', disse rindo Szostak, de 58 anos, durante uma recente entrevista de duas horas em seu laboratório, no Massachusetts General Hospital. ''Era um trabalho antigo’'.
     O ''trabalho antigo’', pelo qual ele já havia recebido o Prêmio Lasker, era ajudar a identificar a natureza e a bioquímica dos telômeros, as extremidades de cromossomos. Compreendê-los pode ser a chave para destravar os mistérios do câncer e do envelhecimento celular. Segue uma versão editada de nossa conversa.

P: A pesquisa de telômeros foi o trabalho de sua vida?
R: Era um tipo de projeto paralelo. Antes de começar a trabalhar com telômeros, eu vinha estudando a recombinação de DNA. O que as células fazem quando veem um pedaço quebrado de DNA? Células não gostam dessas quebras.
Elas fazem basicamente todo o possível para consertar as coisas. Se um cromossomo está quebrado, as células reparam essa quebra usando um cromossomo intacto. Esse processo é chamado de recombinação. E era isso que eu vinha estudando.
Agora, os telômeros: eles são as extremidades dos cromossomos, as pontas, e não recombinam. Certo dia em 1980, ouvi Liz (sua colega Elizabeth H. Blackburn) falando numa conferência sobre o comportamento dos telômeros. Foi o contraste entre o DNA que ela estava analisando e o material que eu estava estudando que me chamou a atenção. Eu queria entender o que estava acontecendo. Então escrevi para Liz logo em seguida.

Jack Szostak, bioquímico que ganhou o Nobel de Medicina em 2009, em seu laboratório em Boston

P: O que vocês descobriram juntos?
R: Descobrimos o que acontecia nas extremidades de cromossomos normais.
Desvendamos a bioquímica fundamental e mostramos que muitos organismos diferentes usam essa bioquímica. Descobrimos que havia uma enzima, a telomerase, que agrega DNA às extremidades dos cromossomos para equilibrar o DNA que é naturalmente perdido quando as células crescem.
Mais tarde, conforme as pessoas do campo começaram a enxergar a importância disso, a pesquisa de telômeros simplesmente decolou. Ficou claro que a perda de DNA nos telômeros podia ter algo a ver com o envelhecimento.
Subsequentemente, vimos que em quase todos os cânceres, a telomerase fica ativada de forma que aquelas células crescem indefinidamente. Claro, é muito bom quando um trabalho realizado há tanto tempo acaba se mostrando importante! Mas a verdade é que meu trabalho partiu em vários caminhos diferentes.

P: O que você estuda hoje?
R: As origens da vida. Em meu laboratório, estamos interessados na transição da química ao começo da biologia na Terra. Voltemos à Terra inicial – digamos que em algum momento nos primeiros 500 milhões de anos. E digamos que a química certa para criar os blocos de construção da vida aconteceu e você tem as moléculas certas para criar a fagulha da vida. Como esses elementos químicos se unem e agem como uma célula? Você quer algo que possa crescer e se dividir – e, o mais importante, exibir uma evolução darwiniana.
Estudamos isso tentando reproduzir esse processo no laboratório. Pegamos elementos químicos simples e os unimos da maneira correta. E estamos tentando construir uma célula muito simples, que possa se parecer com algo que teria se desenvolvido espontaneamente no começo da terra.

P: Até onde vocês chegaram?
R: Talvez eu possa dizer que estamos na metade do caminho.
Achamos que uma célula primitiva precisa ter duas partes. Primeiro, ela precisa ter uma membrana celular que possa ser uma fronteira entre si mesma e o restante do mundo. E é preciso haver um material genético, para desempenhar algumas funções que sejam úteis à célula e possam se replicar para serem herdadas. A parte que pudemos entender razoavelmente bem é a da membrana. O material genético é o maior problema; a química é mais complicada. O enigma tem sido compreender como uma molécula como o RNA pôde se replicar antes de existirem enzimas e todos esses aparatos biológicos complexos, maquinário de proteínas, que temos hoje em nossas células.

P: É bastante incomum que um pesquisador com grandes descobertas numa área científica passe a estudar algo completamente diferente. Por que trocar de campos?
R: Porque em meados da década de 1980, ficou claro quais eram as dúvidas com os telômeros e que elas seriam estudadas perfeitamente bem por outras pessoas. Não sou o tipo de pessoa que aprecia muita concorrência. Não gosto da sensação de que, se eu não estivesse realizando certo tipo de trabalho, isso não faria diferença. Se algo vai ser realizado de qualquer forma, qual é o sentido, certo?
Durante cerca de um ano, frequentei cursos aqui em Harvard, buscando por algo para trabalhar. Examinei a neurociência cognitiva, que é incrivelmente fascinante, mas parecia difícil demais. A estrutura do RNA me atraiu, pois poderia ser a chave para entender o início da vida na Terra.

P: Você já trabalha nessa questão há um quarto de século. Nunca se cansa do assunto?
R: Não. Não. Pois isto não é uma questão monolítica na qual não existe nada interessante até chegar ao fim. Na verdade, o problema se divide em talvez uma dúzia de problemas menores. Cada um tem partes interessantes. Posteriormente, todos se encaixarão.
Por exemplo, fizemos progressos na questão de como criar uma membrana de célula primitiva. Outros mostraram como um mineral comum da argila, a montmorilonita, pode ter desempenhado um papel ajudando a produzir RNA.
Nosso laboratório mostrou como ela pode ajudar as membranas a formar e trazer o RNA para dentro da membrana.

P: Você tenta verdadeiramente criar vida em seu laboratório. Essencialmente, você está tentando provar a teoria evolucionária em uma placa de Petri. Como os fundamentalistas religiosos reagem ao seu trabalho?
R: Depois que o trabalho com a argila foi publicado, recebemos muitos e-mails de fundamentalistas: ''Isso é maravilhoso. Estamos muito felizes que você tenha mostrado que tudo aconteceu conforme está escrito na Bíblia ou no Corão’'. Em Gênesis, tudo começa com a argila, ou barro.

P: Crescendo no Canadá, você era uma daquelas crianças que realizavam experimentos químicos na cozinha?
R: Fizemos coisas ridiculamente perigosas. Mas elas também eram emocionantes. Lembro-me que em 1967, quando houve aquele terrível incêndio no foguete Apollo 1, da Nasa, que matou três astronautas, meu pai produziu oxigênio puro e colocamos fogo num pequeno recipiente. De repente, tínhamos um jato e um fogo inacreditáveis. Você podia ver exatamente o que havia acontecido.
Não tem como fazer isso numa casa de hoje. Imagino que muitas crianças tenham perdido olhos e membros com as coisas antigas. A preocupação é compreensível. Mesmo assim, uma criança precisa ver algo acontecer para ficar animada. Meu filho mais novo, de 11 anos, gosta de química. Encontrar algo que ele ache emocionante experimentar é um desafio.

P: O Prêmio Nobel mudou sua vida?
R: nada significativo está diferente. Mais pessoas me abordam em conferências e querem tirar uma foto comigo. Eu não diria que ficou mais fácil obter a aprovação de nossos artigos ou financiamentos de pesquisa.
O que acontece na cerimônia do Nobel é que, durante uma semana, você é tratado como uma estrela. Um motorista o leva para qualquer lugar. Você tem acompanhantes para assegurar que você sempre chegue onde está indo. E você sempre fica na parte de trás da limusine. Então ouvimos essa história, sobre um laureado do Nobel que volta para casa, abre a garagem, senta no banco traseiro de seu carro e fica esperando.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Partículas presentes em produtos químicos alteram cérebro

      Estudo mostrou que exposição à nanopartículas encontradas em tintas, cremes e protetores solares afeta funções cerebrais
     Nanopartículas de dióxido de titânio, utilizadas em vários produtos, de tintas até cremes solares, podem alterar uma barreira essencial que protege o cérebro de elementos tóxicos, segundo estudo divulgado esta quarta-feira na França.
     Os resultados do estudo em laboratório sugerem que a presença de nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2) poderia ser a origem de uma inflamação cérebro-vascular, informou o Comissariado francês de Energia Atômica (CEA) em um comunicado.
     A exposição crônica a estas nanopartículas "poderia dar lugar a um acúmulo no cérebro, com risco de perturbações de certas funções cerebrais", alertou o CEA.
     Um estudo feito com ratos já tinha demonstrado em 2008, através de uma instilação nasal, ser possível detectar nanopartículas de dióxido de titânio no cérebro, particularmente no bulbo olfativo e no hipocampo, estrutura com papel chave na função da memória.
    Os cientistas buscaram a explicação de como estas nanopartículas apareceram no cérebro, que é protegido de substâncias tóxicas por uma estrutura particular: a barreira hematoencefálica (BHE).
      Equipes do CEA e da Universidade Joseph Fourier de Grenoble (sudeste da França) reconstituíram um modelo celular desta barreira protetora, associando células endoteliais (células da parede dos vasos sanguíneos), cultivadas em uma membrana semipermeável, e células gliais (do sistema nervoso).
     Graças a este modelo, que contém as principais características da barreira hematoencefálica presente no homem, os cientistas mostraram que uma exposição in vitro aos nano-TiO2 provoca seu acúmulo nas células endoteliais. Isto implica também a ruptura da barreira de proteção, associada a uma inflamação.
    A equipe constatou também uma redução da atividade de uma proteína (P-glicoproteína), que tem a função de bloquear toxinas suscetíveis de penetrar o sistema nervoso central, segundo os resultados deste estudo, publicados na edição online da revista Biomaterials.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Células de sangue menstrual são transformadas em embrionárias

      Com a técnica, cientistas brasileiros querem recriar células do músculo cardíaco para estudar arritmia rara Médicos do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em parceria com o Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conseguiram transformar células do sangue menstrual em células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês) - reprogramadas para terem as mesmas características de células embrionárias. Trata-se de um importante avanço nas terapias celulares, que prometem reparar tecidos danificados por doenças ou traumas, já que as células embrionárias são capazes de se transformar em outros tecidos
      A ideia dos pesquisadores é gerar e estudar as células do músculo cardíaco de duas pacientes que têm uma arritmia cardíaca rara, chamada síndrome do QT longo. A primeira tentativa será com mãe e filha - que já tiveram amostras do sangue menstrual colhidas. Por conta da doença, elas sofrem crises de arritmias e podem ter uma morte súbita.
    “Com as células induzidas, vamos reproduzir a doença de mãe e filha ‘in vitro’ e estudar as atividades elétricas envolvidas. Isso vai permitir entender o comportamento anormal das células e testar novas drogas”, explica o pesquisador Antonio Carlos Campos de Carvalho, coordenador de ensino e pesquisa do INC.

FONTE: http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/celulas-de-sangue-menstrual-sao-transformadas-em-embrionarias/n1597321438391.html

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cientistas sequenciam DNA de mulher que viveu até os 115 anos

Estudo sugere que idosa tinha genes protetores contra demência e doenças associadas à velhice

Mulher mais velha do mundo: variações raras no DNA
podem ter protegido idosa contra doenças
       Cientistas holandeses fizeram o sequenciamento completo do DNA de uma mulher que viveu até os 115 anos de idade. 
       Tida como a mais idosa do mundo na época de sua morte, a mulher possuía a agilidade mental de uma pessoa décadas mais jovem e nenhum sinal de demência.
       O trabalho, divulgado durante uma conferência da American Society of Human Genetics em Montreal, no Canadá, sugere que a mulher tinha genes que a protegiam contra a demência e outras doenças associadas à velhice.
        Os especialistas esperam que mais investigações como essa possam, no futuro, esclarecer as associações entre variações genéticas, saúde e longevidade.
       O primeiro esboço do código genético de um ser humano foi feito há mais de dez anos. 
       Desde então, com a melhoria e o barateamento das técnicas de "leitura" do DNA, algumas centenas de indivíduos tiveram seus genes mapeados.
          A mulher, cuja identidade está sendo mantida em segredo, conhecida apenas como W115, é a mais idosa a ter seus genes mapeados.
          Ela doou seu corpo para pesquisas médicas, permitindo que cientistas estudassem seu cérebro e outros órgãos, assim como seu código genético completo.
Variações genéticas 
        A líder do estudo, a pesquisadora Henne Holstege, do Departamento de Genética Clínica do VU University Medical Center em Amsterdã, disse que W115 parece possuir algumas variações genéticas raras em seu DNA.
           Não está claro que papel essas variações teriam cumprido, mas a equipe suspeita de que os genes da mulher a protegeram contra a demência e outras doenças.
"Sabemos que ela é especial, sabemos que seu cérebro tinha absolutamente nenhum sinal de Alzheimer", disse Holstege à BBC.
"Talvez houvesse algo no seu corpo que a protegesse contra a demência". 
"Achamos que existem genes que talvez assegurem vida longa e protejam contra Alzheimer". 
     W115 nasceu prematura e não era esperado que ela sobrevivesse. Mas ela viveu uma vida longa e saudável, sendo levada para um asilo para idosos aos 105 anos. Ela morreu por causa de um tumor no  estômago, tendo recebido tratamento para câncer de mama aos cem anos. 
       Aos 113 anos, testes de sua capacidade mental revelaram o desempenho de uma mulher com idade entre 60 e 75 anos. 
       Exames feitos após sua morte não conseguiram identificar qualquer sinal de demência ou endurecimento de artérias associado a doenças do coração
      Para o progresso da ciência, a equipe está disponibilizando a sequência do DNA de W115 para outros pesquisadores. 
     A BBC pediu ao especialista Jeffrey Barrett, que estuda fatores genéticos associados a doenças no Sanger Centre, em Cambridge, na Inglaterra, que comentasse o estudo.
"Sequenciar o genoma da mulher mais idosa do mundo é um importante ponto de partida na compreensão de como variações no DNA estão relacionadas a uma vida longa e saudável", disse Barrett.
"Mas de forma a realmente entender a biologia que sustenta uma vida longa e saudável, precisamos olhar sequências de DNA de centenas de milhares de pessoas".

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Massa cinzenta do cérebro fica transparente

Cientistas japoneses descobriram técnica de transformar tecido biológico morto em uma geleia translúcida

Clarificação da massa cinzenta pode ajudar emestudos
sobre o cérebro. Na imagem 3D, os neurônios de um camundongo
  Um grupo de neurocientistas japoneses está tentando transparecer a mente – literalmente. Eles conceberam uma forma de transformar a massa cinzenta opaca do cérebro em uma substância cristalina e transparente.
    O grupo, financiado pelo governo e sediado no Riken Brain Science Institute em Wako, Japão, criou um coquetel químico de baixo custo que transforma um tecido biológico morto, de uma massa colorida, em algo que parece uma geleia translúcida. Embeber o tecido cerebral na solução facilita que os neurocientistas vejam o que há por dentro, um passo que eles esperam que revele o princípio físico de traços da personalidade, memórias e até mesmo a consciência.
''Estou muito animado com o potencial’', disse o Dr. Atsushi Miyawaki, pesquisador da equipe, que publicou a descoberta na revista Nature Neuroscience.
    A solução química – patenteada com o nome de Scale, uma aproximação fonética da palavra japonesa para 'transparente’ – poderia ajudar neurocientistas a mapearem a arquitetura oculta do cérebro, apesar do objetivo ainda estar longe de ser alcançado. Até agora, os pesquisadores estão trabalhando para construir este mapa, chamado 'conectoma’, do cérebro de ratos, que é muito menos complexo comparado aos humanos.
    Fundamentalmente, esse mapeamento poderia ser conduzido em cérebros de diferentes idades, disse Miyawaki, oferecendo um vislumbre de como o órgão se desenvolve e até mesmo como diferenças genéticas podem afetar esse desenvolvimento.
     Miyawaki e sua equipe ainda têm que testar o Scale em cérebros humanos – seu laboratório trabalha com ratos – porém planejam fazê-lo tão logo o difícil processo para se obter um exemplar esteja concluído. Ele espera que a solução de transparência funcione tão bem quanto funciona no cérebro de ratos.
    O Dr. Jeff Lichtman, neurocientista na Universidade Harvard, que está envolvido no Projeto do Conectoma Humano – uma ação multi-institucional para mapear o cérebro de ratos e subsequentemente o de humanos – acredita que o Scale mostra potencial e possibilidade de ser usado em seu laboratório.
     Parece um bom método para ''esclarecer o cérebro’', disse ele em uma entrevista por telefone. ''Cérebros claros’', disse ele. ''Isso é o principal’'.
     Os neurônios do cérebro estão ''interconectados em uma rede de fios vasta e profundamente misteriosa, na qual há o diagrama de conexões’', disse Lichtman. Os cientistas têm de decifrar esse diagrama antes de entenderem como a informação flui nele, ele continuou. Se o cérebro fosse clarificado usando-se uma solução como o Scale os pesquisadores poderiam delinear grandes seções do diagrama ''todas em uma só seção’', disse ele, ''e isso seria fantástico’'.
     Atualmente, para ver tecidos cerebrais em um microscópio, os cientistas precisam fatiá-lo em lascas com a grossura de um fio de cabelo, de forma que a luz possa passar por elas. Para analisar o cérebro inteiro de um rato dessa forma – um processo que o laboratório de Lichtman está buscando, mas está longe de estar terminado – o órgão precisa ser fatiado em algumas centenas de fatias e cada qual deve ser analisada no microscópio, para se obter uma imagem de suas células.
    Não só é um processo trabalhoso, como as fatias do cérebro podem ficar distorcidas e pequenas porções de tecido podem acabar perdidas. Esses erros difíceis de serem evitados podem transformar as imagens em peças deformadas de um quebra cabeças que não conseguem ser facilmente agrupadas em um diagrama de conexões.
    O cérebro de um rato que foi clarificado com o Scale, por outro lado, é transparente o suficiente sem ser finamente fatiado e poderia ser exposto em três grandes pedaços, evitando esses problemas, de acordo com Miyawaki. Pelo fato de clarificar o tecido sem remover água, a solução sustenta marcas celulares geneticamente introduzidas – utilizadas para diferenciar um neurônio do outro – em um ambiente úmido que aquele em que evoluíram originalmente. As marcas são feitas de proteínas que vêm de águas vivas e corais.
     De acordo com Miyawaki, o Scale funciona muito melhor em cérebros jovens do que nos mais velhos, que estão repletos de tecidos mais rigidamente conectados que não absorvem a solução tão prontamente.
     Até agora, Miyawaki e sua equipe utilizaram a solução apenas em tecidos mortos. O próximo passo, disse ele, é inventar uma fórmula que funcione em tecidos vivos, apesar de ser um alvo distante no momento.
     O Scale não é difícil de ser feito: é uma mistura barata de ureia (encontrada na urina e em fertilizantes), glicerol e detergente. Apesar de ele e um colega deterem a patente, Miyawaki incluiu a receita inteira em um artigo recentemente publicado e espera que laboratórios ao redor do mundo comecem a usá-lo para mapear o cérebro.
     Neurocientistas não podem responder a questões importantes sobre o cérebro até que tenham um mapa do circuito neuronal, disse Miyawaki, acrescentando, ''e existem muitas, muitas questões importantes’'.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bactéria da peste negra quase não mudou em mais de 600 anos

Estudo sequenciou código genético da bactéria por completo e constatou que ela é quase idêntica à bactéria dos dias de hoje

   Cientistas sequenciaram o código genético da peste negra e descobriram que a bactéria 
Yersinia pestis do século 14 é quase idêntica à versão moderna . Pouca coisa mudou. Há apenas uma dúzia de mudanças entre os mais de 4 milhões de blocos de construção do DNA, de acordo com um estudo publicado online na quarta-feira da revista Nature.
   O estudo mostra que a Peste Negra foi mortal por razões além de seu DNA. Tinha a ver com as circunstâncias do mundo naquela época. Com o avanço da ciência e da sociedade hoje é possível combater a peste com um antibiótico. No século XIV, ela dizimou um terço da população europeia.

Pesquisadores conseguiram reconstruir o genoma da bactéria original a partir de DNA extraído dos restos mortais de quatro vítimas da doença

    De acordo com a pesquisa, dirigida pelo professor Johannes Krause, da universidade alemã de Tübingen, Ele veio no pior momento possível - quando o clima foi ficando mais frio, o mundo estava no meio de uma longa guerra e da fome, e as pessoas estavam se mudando para bairros mais próximos, onde a doença pode infectá-las e se espalhar facilmente. E foi provavelmente a primeira vez que esta doença em particular, tinha atingido os seres humanos, atacando pessoas sem qualquer proteção inata.
   Os pesquisadores chegaram a esta conclusão após reconstruir o genoma da bactéria original a partir de DNA extraído dos restos de quatro vítimas da doença enterradas no cemitério londrino de East Smithfield, construído entre 1348 e 1349 para abrigar vítimas da peste.
   As análises indicariam que a devastadora praga do século XIV pode ser a responsável pela introdução e disseminação por todo o mundo das bactérias que ainda circulam na atualidade. 
Além disso, os pesquisadores constataram que a doença hoje em dia é influenciada por fatores ambientais e a própria suscetibilidade do portador. Acredita-se que a Peste Negra se originou em roedores na China e se propagou através das pulgas dos ratos. "É um exemplo histórico fundamental de uma infecção com rápida disseminação e alta mortandade", já que num período de cinco anos reduziu consideravelmente a população da Europa, assinala a revista Nature.
   Os pesquisadores haviam publicado recentemente outro estudo com a o sequenciamento de pequenos fragmentos do DNA bactéria. Nesta análise ela parecia mais diferente da bactéria contemporânea. O estudo publicado esta semana na Nature, que contou com técnica mais apurada e o sequenciamento completo do DNA da bactéria mostrou que elas são muito parecidas. "Elas têm menos diferença do que mãe e filha”, disse Krause.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/bacteria-da-peste-negra-quase-nao-mudou-em-mais-de-600-anos/n1597269653040.html

Poluição endurece as artérias, afirma estudo feito na Suécia

Problema aumenta risco de ataques do coração.
Estudo foi publicado hoje em revista especializada em meio ambiente.

   Os contaminantes químicos presentes no meio ambiente foram vinculados pela primeira vez ao endurecimento das artérias, condição que pode provocar ataques cardíacos e apoplexias, segundo um estudo sueco publicado esta terça-feira nos Estados Unidos.
   Há tempos se sabe que substâncias tóxicas cujo efeito no ambiente é de longa duração, como as dioxinas, os bifenis policlorados (PCB) e os pesticidas se acumulam no tecido adiposo do corpo e no interior das paredes dos vasos sanguíneos.
   Mas o estudo publicado na revista americana Environmental Health Perspectives é o primeiro a analisar a relação entre o tipo de exposição aos poluentes e a probabilidade de sofrer de arteriosclerose.
   O estudo mediu os níveis destes componentes químicos em 1.000 suecos residentes na cidade de Upsala (sudeste) e os níveis de arteriosclerose na artéria carótida, utilizando tecnologia de ultrassom.
   Os cientistas descobriram que aqueles com maiores níveis de contaminantes circulando no sangue eram mais propensos a sofrer um endurecimento das artérias e a ter sinais de acúmulo de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos.
   "Estas descobertas indicam que os tóxicos ambientais de vida longa orgânica podem estar implicados no aparecimento de arteriosclerose e, portanto, levar no futuro à morte devido a doenças cardiovasculares", explicou Lars Lind, professor do departamento de ciências médicas da Universidade de Upsala.
   Os países industrializados tendem a ter o maior número de casos de doenças cardiovasculares, cuja causa principal é o endurecimento das artérias.
   Os fatores de risco incluem dietas ricas em gordura, tabagismo, diabetes e pressão alta.
   Apesar de muitos contaminantes atualmente serem regulamentados ou proibidos em todo o mundo, eles podem permanecer no ambiente por décadas, explicou Monica Lind, co-autora do estudo e professora associada de Medicina Ambiental do Instituto Karolinska.
   "Na Suécia e em muitos países do mundo muitas destas substâncias são proibidas hoje, mas porque sua vida é longa ainda persistem no nosso ambiente", disse Lind.
   "Nós ingerimos estas substâncias tóxicas com os alimentos que comemos e enquanto são armazenadas no nosso corpo, seus níveis aumentam à medida que envelhecemos", acrescentou.
   A equipe planeja analisar em breve a existência de algum vínculo entre a presença dos contaminantes no sangue e a incidência de apoplexias e ataques cardíacos.

FONTE: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/10/poluicao-endurece-arterias-afirma-estudo-feito-na-suecia.html