Identificadas 173 espécies comuns a Brasil e Antártida
Animais vivem em águas profundas ou têm adaptações para a diferença de temperatura entre os dois ecossistemas.
A estrela-do-mar Ceramaster patagonicus é uma das espécies encontradas pelo projeto da UFRJ
O clima pode ser radicalmente diferente, mas em um aspecto a Antártida e o Brasil são mais parecidos do que se imagina: na fauna marinha. Pesquisadores brasileiros identificaram 173 espécies em comum entre as duas regiões. A maioria das espécies é de equinodermos, nemátodos e esponjas.
Para se ter uma idéia, de 616 espécies de equinodermos coletados, foram verificadas 70 espécies compartilhadas entre os dois continentes, aproximadamente 12% do total do que foi estudado. Equinodermos são animais marinhos, invertebrados e com o corpo coberto por espinhos ou tubérculos, sendo o mais conhecido a estrela do mar.
Como as diferenças entre os dois ecossistemas são grandes, os pesquisadores descobriram que na maioria dos casos, as espécies compartilhadas habitavam a margem profunda do mar brasileiro, onde a água tem baixa temperatura. Outros organismos possuem adaptações fisiológicas. “São reações químicas que ocorrem no corpo e que auxiliam em seu crescimento, defesa, reprodução e outros processos de vida em relação às condições físicas do ambiente”, disse.
A pesquisadora Lúcia de Siqueira Campos, do Instituto de Biologia da UFRJ, disse que as investigações devem seguir, para confirmar a semelhança genética entre os animais das duas regiões. Num primeiro momento, os espécimes foram considerados semelhantes contando apenas sua aparência. Apenas o DNter continuidade, inclusive com o uso de ferramentas que identifiquem a distância genética entre os organismos. Isto para se certificar se as espécies realmente são as mesmas. O resultado final do estudo será publicado, no início de 2011, na revista científica Oecologia Australis, da UFRJ.
O projeto da UFRJ fez parte do Censo de Vida Marinha, iniciativa que catalogou durante uma década toda a fauna dos oceanos do planeta.
Os pesquisadores também querem entender como estes organismos se espalharam ao longo do tempo. A longa viagem que estas espécies percorreram corresponde a pelo menos 3.172 km, que é a distância entre Estação Antártica Comandante Ferraz, na ilha Rei George (onde está a base científica brasileira) até a cidade de Chuí (RS), no extremo sul do país.
Viajando com a maré
Para percorrer tamanha distância, os organismos podem usar de vários mecanismos. Lúcia explica que a forma de dispersão depende do modo de vida da espécie como, por exemplo, ter larvas que flutuam na coluna d’água ou se incuba seus filhotes. A desvantagem é que no meio desse caminho pode haver algum predador.
As correntes marinhas também funcionam como vias para que os organismos se dispersem pelo planeta, mas este processo não ocorre do dia para a noite. “Na maioria dos casos, são necessárias várias gerações de transferência gradual entre um local e outro, já que as massas de água e correntes também têm um ciclo de milhares de anos”.
Muitos organismos utilizam de um meio de transporte oportunista: se instalam em animais como baleias, golfinhos ou peixes. O caso mais conhecido são as cracas em baleias jubarte. Outras possibilidades estão nos cascos de navio ou na água usada para lastro. De qualquer maneira, esses animais conseguem viajar longe.